Sexta-feira, 24 de Abril de 2009

Um estranho compromisso com uma estranha forma de negação

 

Ao ler notícias destas, aqui a ali, confesso ficar uns bons graus acima do recomendável a nível de perplexidade. Não irei focar, em primeira mão, o caso das obras de restauração de um largo/praceta em Santa Comba Dão, com um infame nome que lhe permaneceu colado nas brumas esquecidas dos anos. Não, primeiramente, quero focar a estranha padecência de uma alergia ao advento democrático pelas contemporâneas Direitas, as ditas democráticas, da Peninsula Ibérica. Aqui ao lado, adoptam-se posições bastante ambíguas quanto aos esforços do governo socialista em "limpar" manchas da vergonha franquista que ainda assombram a consciência de uma grande parte da sociedade espanhola. Mas prefiro enveredar mais longe e aprofundar o caso português, nosso conhecido e que nos é mais próximo.

Todos os anos, quando a Primavera dobra o seu primeiro mês e chega a "fatídica" data de 25 de Abril, lá começa o acometimento de sintomas a grassar nos reinos laranja e azul-amarelo. Eles vão das tradicionais negaças do Governo Regional madeirense e da sua subserviente Assembleia Legislativa em celebrar oficialmente a data, num jogo de máscaras e de subterfúgios aberrantes. A Revolução já foi festejada, na nossa ilha atlântica, no dia 24 e no dia 26, por exemplo. Faz bem Senhor Jardim, engasgue-se na prepotência  que o cargo lhe dá e que Lisboa lhe concede sem reservas, deixe os fantasmas que habitam a sua cabeça andar por aí à solta a assombrar o seu povo, que ainda deve estar à espera que venha um fortuito dia 25 para que festejem finalmente uma mudança de monta no seu poiso. Mas, estando eu a falar de uma das duas vacas sagradas vivas que restam ao PSD (acho que vão adivinhar qual é a outra pelo desfecho deste raciocínio), acham que algum dirigente laranja, qual devoto hindu, e por mais alto que seja o seu cargo, irá ousar contestar? Nem com suásticas ironicamente brandidas (que não as hinduísticas) contra a lei insular da rolha se mexeu qualquer palha, aqui no continente.

Porque é precisamente aí, na sua base partidária, que as áreas cinzentas se multiplicam , cada vez mais a caminhar para um perigoso breu. Foi-se da recusa em usar o cravo na lapela nas comemorações oficiais na Assembleia da República, como se a revolução tivesse sido arquitectada e apenas desejada por perigosos esquerdistas sovietizantes, contra os auspícios das forças moderadas e "democráticas". Decerto que muitos dos actuais dirigentes políticos da direita precisam de vasculhar e remexer no baú da História para verem a adesão dos seus originais dirigentes à Revolução. Mas tal não lhes interessa. Quando se estava nessa altura nas universidades a instituir cadeiras sobre a história do movimento proletário chinês como disciplina de Direito (valeu o acto de contrição posterior, em que o livrinho vermelho de Mao foi guardado, perante o advento de uma espécie de epifania divina), ou, no caso de um certo "menino guerreiro" enveredado em acções clandestinas de extrema-direita do Exército de Libertação de Portugal (ELP), está montado o palco para uma esquizofrenia valorística e para uma falta de integridade do seu presente para com os respectivos passados que forma os discursos hodiernos dessas pessoas. Sim, porque podem falar dos excessos do PREC, mas, convenhamos: Festeja-se todos os anos o derrube do Estado Novo a 25 de Abril de 1974, ou o Verão Quente de 1975?  Pelos vistos, tal não interessa. Pergunto-me se este quase negacionismo merece o regozijo das respectivas bases destes partidos. Porque, no fundo, no seu âmago, é quase uma disassociação com o próprio fenómeno democrático, algo que eu, simplesmente, não entendo.

Tal como acho inexplicável os esforços que estão a ser feitos, pela autarquia local do PSD/PP em Santa Comba Dão para que o restaurado Largo António de Oliveira Salazar seja inaugurado amanhã. O porquê, não o consigo dizer. Quase que parece uma provocação. E não, os factos não estão a ser distorcidos como foi o caso da futura abertura do Museu Salazar, que não se trata de um museu de exaltação ao Estado novo, mas sim de memória desse período histórico. Daqui sou obrigado a voltar à velha indagação: Para quando a elaboração e aprovação de uma Lei de Preservação da Memória, que evite um futuro branqueamento que os distanciamentos temporais tão perigosamente potenciam?

É caso para dizer: Se há agora muitos senhores que falam mal das mudanças ocorridas há 35 anos atrás, é porque a partir desse momento deixaram de ter uma pata sobre as suas gargantas. Parece que gostariam de a voltar a ter.

 

 

 

 

 

 


decretado por Z*T*I*V às 19:45
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