- (...) - Então pá, posso agora saber em quem votaste ontem?
- (...) - Adivinha lá em quem é que eu votei...e tu?
- Tcharam! - (...)
Será impressão minha, ou foi este o verdadeiro vencedor desta noite eleitoral?
Sem dúvida, uma daqueles "animais" políticos com um instinto de sobrevivência de fazer inveja a qualquer líder do PSD...
- (...) - Então pá, em quem vais votar amanhã?
- (...) - Não dizes nada? Vais votar no
Scóteres? No Bloco? No PNR?
Na Thatcher Portuguesa?
- Devespensarquetensap%"adamaniadeves...
E foi assim o debate mais aguardado para as Legislativas deste mês. Talvez sintoma da mais que provável fragmentarização do voto nos diferentes partidos, nem pareceu um debate entre os líderes dois maiores partidos portugueses. Houve pouco combate e muita unilateralidade de protagonistas, muito por culpa da estratégia montada por Sócrates e pela sua respectiva equipa, o que fez com que o primeiro-ministro tivesse começado logo no mesmo tom e não tivesse largado essa postura quase até ao final. Percebeu-se que souberam tirar partido da postura habitual muita própria da candidata Ferreira Leite, a qual pareceu sempre demasiado desconfortável e acossada durante todo o debate.
Sócrates começou por manter a "máscara" da humildade na política que tem vindo a usar desde as últimas eleições Europeias, a qual, apesar de lhe assentar bastante mal, acabou por não lhe ser retirada ontem pela sua adversária, a qual começou logo com o pé errado, ao mostrar estranhas dificuldades em explicar os pontos do programa eleitoral do seu partido. Sócrates começou por fazer declarações de optimismo e esperança no futuro, tentando contrastá-las com a faceta cinzenta e negativa da qual Ferreira Leite faz uma estranha gala em usar como imagem de marca, e ontem voltou a cair nessa armadilha e nada fez para mostrar o contrário, nem para revelar algumas falhas no discurso "solarengo" de Sócrates. A líder do PSD também se "espalhou ao comprido" quando afirmou que o cargo de Presidente do Governo Regional da Madeira não era um cargo electivo, quando se discutiu o facto do cabeça de lista dessa região ser Alberto João Jardim, o qual se recusou sempre em comparecer na Assembleia da República.
Quanto a Sócrates, carregou na tecla dos grandes projectos como o TGV e o novo aeroporto de Lisboa, sendo que a sua adversária falhou em explorar esse tema, já que esses mesmos empreendimentos já foram postos em cheque por alguns membros do próprio executivo socialista. Esta ainda se viu debaixo de fogo quando Sócrates relembrou "acordos de princípio" celebrados entre o Governo PSD/PP e o Governo espanhol no ano de 2003, no sentido de se ir para a frente com a linha de alta velocidade ibérica. A cartada da ameaça dos interesses espanhóis acabou por se afundar nesse momento. Ferreira Leite necessitava de se explicar melhor. E dizer que a conjuntura económica em 2003 era favorável e desafogada? Claramente, não viveu no ano de 2003 em que o resto do país viveu. Erro de palmatória. Foi um dos seus maiores tiros ao lado na matéria económica.
Em matéria fiscal, quando Sócrates afirmou que apenas tinha aumentado o IVA, Ferreira Leite não só falhou no ataque, como ainda se deixou enredar pela questão do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) e do Pagamento Especial por Conta para as Empresas (PEC), acabando por ver-se a si mesma a criticar precisamente dois impostos criados aquando da sua passagem pelo Governo.
Quanto à questão das SCUTs, os dois candidatos estiveram turvos. Ferreira Leite pareceu fazer "marcha-atrás" quanto à sua oposição original a estas, sendo que Sócrates mudou abruptmante para a questão da construção de novas auto-estradas, aproveitando uma deixa de ...Manuela Ferreira Leite. Esta, argumentando inicialmente no sentido de estas representarem um encargo futuro, de repente passou a defender a opinião de Sócrates de que algumas destas auto-estradas são de interesse nacional.
Na questão da política social, entrou-se no domínio dos lugares-comuns que caracterizam, no papel, o PS e o PSD. Ferreira Leite manteve-se retraída e cautelosa neste capítulo, claramente o medo de perder votos nunca se mostrou com tanta força como até aqui. Sócrates limitou-se a vestir a pele de paladino do Estado-Providência, convidando constantemente a sua adversária a dizer o que lhe ia na alma. Houve contenções e panos quentes.
Quanto à Saúde, Sócrates, confrontado com um tema que lhe era mais sensível, enunciou constantemente exemplos e estatísticas, quebrando o ritmo do debate, e atirando a batata quente da privatização para a mão de Ferreira Leite, a qual não conseguiu desfazer essa questão de forma conclusiva, incapaz de explicar se quer privatizar o que é público ou se está a defender uma co-existência entre o público e o privado. Bastou Sócrates mostrar uma entrevista ida daquela ao "Público" (na qual o tema da privatização da Saúde, Educação e da Segurança Social foram abordados) e sucederam-se os tropeções.
O último tema, o da Educação, configurava-se como a derradeira "arma" de Ferreira Leite contra Sócrates. Contudo, a sua exposição acabou de forma muito breve e atabalhoada, "cortada" pela moderadora Judite de Sousa por constrangimentos de tempo reservado a cada candidato. Por outro lado, Sócrates apenas se escudou no incremento do ensino profissional. Muito pouco. Via-se que era o tema onde estava menos à vontade...
Assim se viu quando não quis abordar a questão da manutenção da ministra Maria de Lurdes Rodrigues, Sócrates, pela primeira vez, suou. Disse, já no limite, que: "O novo Governo será um novo Governo com novos Ministros", frase enigmática que ficou a pairar no ar. Acabou por ser "salvo" pelo esgotar do seu tempo de resposta...
No final, a questão da hipotética solução de "Bloco Central" foi terminantemente rejeitada por Ferreira Leite, sendo que a sua analogia final do individuo que mata o pai e a mãe para dizer que é órfão, para criticar a atribuição de subsídios aliada a fracas políticas de incremento foi especialmente infeliz, imediatamente criticada e aproveitada por Sócrates.
Foi um debate claramente ganho por José Sócrates, mas ficou a impressão que com muito demérito de Manuela Ferreira Leite, que mostrou muita irritação, muita crispação, um carácter demasiado monolítico. Sócrates cobriu bem as suas falhas, e nem teve que se esforçar muito para isso. Se não soubéssemos já da exiguidade das sondagens, diríamos que o PS já teria ganho (ainda que nada folgadamente) as eleições. Mas tempos difíceis como estes são inimigos naturais da previsibilidade. De que serviria dizer que, numa normal democracia e em circunstâncias pouco extraordinárias, alguém como Manuela Ferreira Leite nunca ganharia umas eleições? Se calhar, e para já, ainda pouco...
Nota: Este artigo surge como resposta cordial a uma indagação de um blogue afiliado
Não se pode bradar por uma dita social-democracia responsável e com futuro por parte do PSD quando, em primeiro lugar, e, desde a sua génese, se assistiu à bizarria de ver um partido liberal (no sentido europeu do termo) adoptar o termo "social democrata" na sua designação, logo, o PSD que muitas pessoas têm em mente nunca foi, nem alguma vez será, um partido social democrata!
Só assim se explica que Portugal tenha um partido que ostenta o título de "social democrata" e faça parte do Partido Popular Europeu em Bruxelas, caso único por essa Europa fora.
Tentar casar a social-democracia do partido laranja com, por exemplo, a tradicional social-democracia nórdica de um Olof Palme é um exercício de surrealismo que deve fascinar e estarrecer muito politólogo que estude a nossa realidade político-partidária.
Essa incongruência original reflecte-se, ainda que se possa dizer que estamos a viver numa era em que as ideologias esmoreceram, na forma como o PSD se tornou uma nebulosa de individuos de direita, mas onde falta um mínimo resquício de princípio fundador e minimamente orientador, à mercê de barões, que fazem e extinguem líderes com uma velocidade alarmante. Foi assim desde a morte de Sá Carneiro, onde o único período em que o partido teve uma liderança estavelmente consolidada foi com um ex-docente que teve o azar de estar, reza a lenda, por causa de uma revisão ao carro, no mesmo sítio onde decorreria um comício do partido. E aí ganhou uma aura messiânica, da qual o PSD ainda continua a viver. Mais parece o Peronismo na Argentina.
Desse erro original padece a crise de identidade do PSD até aos dias de hoje. Em 1974, tinha tudo medo de ser fuzilado no Campo Pequeno, não fosse o Gerald Ford tropeçar e enganar-se no botão dos mísseis e ainda mandá-los para a casa de férias do Brejnev...e lá tínhamos nós de ser uma Cuba europeia que nunca existiu...
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