Mais de 60 anos depois, os alemães continuam a arranjar formas de nos surpreender.
É engraçado constatar que os jogadores continuam a fazer teatro mesmo quando são agredidos...pelo àrbitro.
Pena é que em Portugal ainda persista a ideia de que os exercícios públicos de opinião e de verdadeira cidadania apenas pertençam às ditas figuras públicas ou aos que tem "posses" para se fazerem ouvir. Falta de mentalidade democrática, digo eu. Quando certas franjas extremistas de direita não o hesitam em fazer, com autênticas encenações periódicas, a última das quais, julgando-se legitimados moralmente por um lamentável concurso promovido pela televisão pública, teve a forma de um cartaz de teor xenófobo exposto numa das principais artérias da capital, tiveram que ser os humoristas do momento a vir a terreiro insurgirem-se contra tal acto. Vamos lá ver qual a reacção da empregadora RTP, a tal dos "Grandes Portugueses", a tamanha "ousadia"...
Os membros deste quarteto bem podem dizer dizer que tal resposta se deve apenas a motivos de humor e apolíticos, mas ver as coisas dessa maneira seria redutor. Trata-se sim de reagir contra uma cultura de silêncio e de inoperância herdadas, a qual parece ser cultivada na arena política principalmente por parte da esquerda com assento parlamentar, a qual prefere assobiar para o lado e minimizar certas acções, esquecendo que a história se faz no momento, que a sua letargia pode ter consequêcias no futuro próximo. De facto, não vi nenhuma resposta enérgica, em actos, relativamente à questão do tal cartaz do Partido Nacional Renovador, da parte dos principais partidos de esquerda, ou daqueles que mais se abonam de tal rótulo- falo da CDU/PCP e do Bloco de Esquerda. De resto, a este último, um partido com o qual ainda me custa a rever nalgumas partes do seu programa e critico certas posturas pouco acessíveis e "intelectualistas" na sua forma de fazer política, mas nunca negando de que soube tirar partido de um dito mediatismo agitador nos últimos anos, tenho constatado um certo "aburguesamento" a nível de acções e até de posturas das suas caras conhecidas, já para não dizer do seu líder outrora tão inconformado. Terão os resultados das últimas legislativas feito mal? Estará uma possível sucessão a caminho? Não sei. Mas não deixa de ser estranho.
É este o calcanhar de Aquiles que já leva várias gerações e que certos grupos identificaram e tentam explorar para o seu benefício. Há um certo desgaste nas pessoas, é inegável, as dificuldades actuais do país levaram a que, pela primeira vez, muita gente olhasse para trás e começasse a ver que depois do 25 de Abril só se fizeram coisas erradas. Não necessariamente. As gerações com um mínimo de memória e mais esclarecidas assim o dirão. Opções e decisões erradas? Decerto que as houve. Seria uma ingenuidade dizer o contrário, mas nem tudo foi mau. É difícil dizer isto quando falar mal de tudo e a auto-vitimização se tornaram no segundo desporto nacional. Certas pessoas querem ver algo de diferente, algo que não lhes soe ao mesmo e não lhes interessa qual é o nome dessa coisa. Fascista? Sim, mas as nuvens alaranjadas do poente iluminam tudo com a candura da nostalgia, parafraseando Milan Kundera, até mesmo a guilhotina.
Há um movimento que tenta tirar partido da situação actual, do espaçamento do tempo e da memória, o tal imediatismo é o que impera agora, e a falta de oposição a tal é um crime. Daqui a 20 dias, lá teremos mais um feriado chato de que alguns desconhecerão as razões, se calhar com isto fica a concretização de um artigo que tinha deixado em aberto sobre essa data faz quase um ano.
É de louvar que a primeira geração nascida após 74, a qual atinge agora os 30 anos, tente aludir para esse facto. E é bom que digam em entrevistas "sim, eu sou de X", "eu sou de Y", se calhar o mau é termos demasiados artistas que fingem não ter cor política.