Não, não é o facto de haver um presidente de um país do centro da Europa, a Républica Checa, de seu nome Václav Klaus, que me chateia.
Não, não é o facto deste ser um político com formatação diferente da maioria e de gostar de causar momentos coloridos e de falar o que lhe vai na cabeça na presença de outros congéneres seus por esse Velho Continente fora (foi Klaus, eurocéptico até à medula, que mandou calar o eurodeputado Cohn-Bendit com um célebre "o senhor está-se a esquecer que já não está nas barricadas de Paris em 1968"; e que defendeu que o seu país devia ter boas relações com a antiga inimiga Rússia porque "não se pode exigir muito mais a um país (Rússia) com míseras tradições democráticas").
Não, não é o facto de a República Checa ter um défice na ordem dos 5%, e que muito aflige o presidente dos checos, e deste questionar a nossa despreocupação perante os "nossos" 8%, que me chateia.
O que me chateia foi saber que a única resposta a este achacamentozinho klausiano foi um arreganhar de dente breve e subsequente engolir em silêncio do homem ao qual é investida a representação de todos os portugueses enquanto Presidente da República Portuguesa. Sim, senhor Silva, aqui tinha pela frente um Chefe de Estado que não é da escola "boneco de cera politiquissimamente correcto" que tanto grassa por aqui e noutros lados. Quando começam a aparecer umas fissuras no verniz protocolar, é só baldes de suores frios. E que tal dizer ao senhor Klaus que os assuntos portugueses não são da sua conta? Além de comer, calar e ainda agradecer, ganhou uma viagem de carro de volta para cá, pois não é só o panorama económico que é só cinzas, os céus também estão cheios delas...
Sim, senhor Václav, NÓS, CIDADÃOS, estamos muito preocupados com o défice. Estamos muito preocupados com um presente que não parece ser grande futuro. O senhor não augura grande coisa à União Europeia e ainda andou a segurar a última lâmina que pendia sobre a cabeça do Tratado de Lisboa. Lá deve saber, ou achar, se o seu país fica melhor sem Bruxelas. Nós temos andado na "mama" desde 1986 e, mais 3 aninhos, vão tirá-la da nossa boca. Os estômagozinhos cá do sítio que tanto rebentaram nestas décadas, qual rábula do "The Meaning of Life", vão contorcer-se e bem.
Aí vamos ver se os positivos que este país alcançou desde então não foram uma mentira pegada, servida por artistas progressivamente mais medíocres com o tempo, e agora com uma rectaguarda despudoradamente coberta.
Sim, senhor Václav, estamos preocupados que a nossa triste realidade nos seja atirada à cara. Gostamos de bons modos, somos de brandos costumes. Mas ainda temos, não todos, uma espinha dorsal e um bocadinho de estima. Uma résteazinha que seja para mandar a uma certa parte quem mete a foice em seara alheia e os que, cá dentro, põem o nosso país a jeito para levar com coisas dessas. Parece que, ainda que com muitos e muitos crimes cometidos, as ditaduras de esquerda que governaram o seu país nunca tiveram problema em abrir universidades e em ter gente dentro delas. A nossa ditadura preocupou-se em fechar escolas primárias, quanto mais em formar quadros competentes, e em promover utopias católico-rurais. Tão pior do que isso foi o chorrilho de corrupção e oportunidades perdidas que se seguiu já com a democracia. Os resultados económicos depois vêem-se.
Mas, estava-me a esquecer, nós vamos estar no Mundial de futebol e vocês não.
Realmente, nós somos os maiores...
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